Contos e Crônicas

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" No ônibus"

 Part I


Certa vez, um garoto foi ao centro da cidade e, chegando no ônibus, viu uma moça loira e de olhos bem escuros. Ele quis assentar-se ao seu lado, entretanto, estava sem jeito para tal, visto que havia diversos lugares duplos vagos ainda.
Ele tinha que pensar rápido, então, decidiu abordá-la de forma direta, embora não constrangedora:
- Moça, posso me sentar ao seu lado?
- Sim, claro!
O que diria ele agora?
A moça continuou quieta, com seu vestido florado e levemente decotado. A pele fresca do seu colo já o atormentava, até que chegou a parada onde ele desceria.
Ao descer, ele voltou seus olhos para a moça, mas ela não olhou para ele.
Por um bom tempo, ele sonhava com ela todas as noites e, aos poucos, seus sonhos foram cada vez menos frequentes. Hoje, ele, de vez em quando, ainda sonha com ela, mas QUE TUDO ISSO SEJA um segredo, porque ela nem sabe.

Rose Dias - Estudantes de Letras da Universidade Estadual de Pernambuco - UPE

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 Part II


Eu já estava atrasado pro trabalho, chovia muito, o ônibus demorava e eu na parada.
Pensei que fosse o meu dia de azar. Mais alguns minutos e lá vem o ônibus, pra minha alegria vinha vazio, com poucas pessoas. Entrei e olhei pra trás, havia dois lugares fui diretamente a eles. Sentei-me ao lado da janela, coloquei meu mp3 e retirei o livro da Lya Luft – múltipla escolha – para terminar de ler.
Estava com muito frio, pois eu vestia uma camisa de malha fina.
De cabeça baixa lendo o livro percebo que alguém se aproxima para sentar ao meu lado. Olho disfarçadamente para ver quem é. Tratava-se de uma moça bonita, branca meio alta, de pele macia, cabelos longos e pretos e com uma saia apertada de executiva.
Ela sentou ao meu lado, mas não nos encostávamos.
O ônibus balança muito e de vez em quando nossos braços se escoravam. Percebi que me olhava varias vezes como quem quisesse saber que livro estava lendo ou que música ouvia. Eu apenas de cabeça baixa olhei para suas pernas e coxas brancas e lisas.
Passavam-se 30min de viagem e nossas coxas laterais já se apoiavam uma na outra. No balançar do ônibus nossos braços se esfregavam com mais freqüência causando certo aquecimento do frio e uma intensa excitação. Ela, de vez em quando, passava a mão em seus seios, como quem quisesse me provocar. Eu olhei para o seu gesto e percebi que já estava suando. Depois olhei para o seu rosto e ela riu. Eu sem graça voltei a ler o livro, quando ela me perguntou:
- Qual o título do livro?
- Como?
- Qual o título do livro?
- Ah! “Mútipla escolha”.
- Fala do que?
- Fala sobre os mitos sociais e muitas outras indagações do ser humano.
- Parece legal.
- Mas é legal.
Ela pediu pra foliar o livro. E eu dei.
Sentia o seu perfume cada vez mais perto e forte.
- Eu vou comprar, mas se eu não gostar você vai ter que me pagar. O que acha?
- Pode comprar caso não goste não sei se pago com dinheiro.
Rimos.
- Tudo bem, não importa de que forma, eu só quero que me pague.
Ele já iria descer, pois ia estudar. Levantou-se e se despediu.
- Até mais.
- Tchau.
Apenas admirava-a pela janela e ela me olhou e ergueu a mão se despedindo novamente.
Pelo menos sei, agora, que ela trabalha na mesmo lugar que minha mãe, mas em horários diferentes. Isso me garante, em partes, que haverá próximos encontros e espero que não se limite no esfregar e escorar.


Sanches. R - Estudante de Letras do Instituto de Ensino Superior do Amapá - IESAP